um ensaio inusitado

Essa é uma das coisas que se acontece quando você é o cachorro de uma fotógrafa. Fim de tarde, janela aberta, e lá foi a Pipa latir porque viu as crianças. A Pipa é muito comunicativa e tem vários tipos de latidos. Quando o latido parece um uivo ela quer dizer “vem aqui, vamos brincar!”. E ela adora uma janela, parece até a dona. Então que nessa época do ano o ângulo do sol muda, e eu estava fotografando o Johnnie (o outro cachorro) que estava deitado no sofá (é, a vida aqui é muito boa pros caninos). De repente, que luz, que luz! Comecei a fotografar a Pipa e acabei indo pra um ângulo que nunca tinha explorado. Eu sempre fotografava do outro canto da janela, porque esse é meio apertado. Mas deu certo. Eu me espremi um pouco e a luz estava muito mais bonita. A Pipa é que lá pelas tantas se cansou de ficar posando. É, cachorro de fotógrafa faz pose, pelo menos aqui em casa.

(0bs: todas as fotos desse post foram iphoneografadas)

Pipa

esse post foi escrito e fotografado por Julinha Moreira (julinhamoreira@gmail.com)

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do lado de fora

Hoje é dia de apresentar um novo trabalho. E pra isso, eu preparei um PDF especial, contando direitinho como é meu trabalho de fotografia de recém nascido.

Para baixar, é só clicar aqui.

do lado de fora

esse post foi escrito e fotografado por Julinha Moreira (julinhamoreira@gmail.com)

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A fotografia imperfeita

Vou contar a história de como eu descobri a minha fotografia.

Foi meio por acaso. Um dia, percebia um pouquinho dela, mas podia passar meses sem encontrá-la. Na verdade, só reconheci anos depois. E é mesmo um pouco assim, porque é fotografando que nossa fotografia se cria – eu diria que ela se cria a partir de um equilíbrio entre ter e perder o controle.

Então, desde o começo, eu me apaixonava por algumas das imagens que eu tinha feito. Mas olhava pra foto, e pensava “ah, se tivesse foco, essa foto seria perfeita”. E pra minha sorte, esses acidentes continuavam acontecendo, e eu sempre me apaixonava por novas imagens. Só que eu continuava com a ideia de que aquela imagem precisava de foco, porque afinal, quando fotografamos, precisamos colocar um foco, e no geral, em pontos pré determinados, principalmente quando fotografamos pessoas. E o foco vai pro rosto, ou pros olhos. Como assim, eu poderia entregar uma foto sem foco no rosto? Ou então focar a ponta do nariz, e deixar os olhos sem foco nenhum?

E anos passei presa na necessidade do foco perfeito. Não, isso não foi ruim, porque fui aprimorando muitas coisas, mas nunca deixei de olhar os acidentes.

Até que em 2009 comecei a ousar de uma maneira que nunca tinha feito. Comecei a fotografar sem olhar pelo visor da câmera, sem controlar totalmente o que eu via. Saíamos eu, 20D e a minha linda Nikkor 50mm 1.4 com foco manual. Confesso que até hoje sou apaixonada por essa lente. No geral, fazia as fotos no jardim que ficava na frente da minha casa, e adorava quando o mato estava grande. Tínhamos um matinho muito lindo, com umas micro flores que viraram minhas modelos preferidas na época.

Nunca segurava a câmera na altura dos olhos, e na maioria das vezes trabalhava com o foco mais próximo da lente: 60 cm. Enquadrava com a câmera bem baixa, encostada, ou quase, na grama. Olhava pro que eu imaginava que queria enquadrar, fazia um cálculo de aproximadamente 60 cm de distância – sim, aproximadamente, porque eu queria errar – e clicava. Às vezes, encostava a lente em alguma árvore, e mirava pro alto. Na verdade, foi num desses momentos que eu me apaixonei por essa técnica, e passei a experimentá-la cada dia mais.

Foi quando eu vi essa foto que eu entendi que a beleza não tinha regras. E descobri como era bom afastar a câmera dos olhos e perder um pouco o controle.

Julinha Moreira

Continuei explorando essa técnica durante meses. No geral, sempre no jardim da frente de casa, e, ocasionalmente, com algumas vítimas humanas que nem imaginavam que estavam sendo fotografadas!

Continuei explorando essa técnica durante meses. No geral, sempre no jardim da frente de casa, e, ocasionalmente, com algumas vítimas humanas que nem imaginavam que estavam sendo fotografadas!

Continuei explorando essa técnica durante meses. No geral, sempre no jardim da frente de casa, e, ocasionalmente, com algumas vítimas humanas que nem imaginavam que estavam sendo fotografadas!

E é claro que as explorações no jardim eram inúmeras. De repente, a luz mudava no céu, e lá estava eu, com a câmera na mão, afastada do rosto. Criei gosto pelo inusitado, gostei de perder o controle. E depois de um tempo fotografando assim, descobri uma outra maneira de olhar, uma outra maneira de gostar, e incorporei isso na minha fotografia.

Julinha Moreira

Julinha Moreira

Fui aos poucos criando uma série que chamei de “Meu jardim secreto”. Aqueles matos tão pequenos, na tela do computador pareciam enormes.

O tempo me fez ganhar confiança e gosto pela ausência de foco, ou então, pelo foco inusitado. E novamente com a câmera no olho, passei a fazer essa busca de uma maneira intencional. Eu queria perder o foco, eu queria criar imagens em que houvesse uma ruptura no ponto de foco esperado. Não queria a obrigação do foco nos olhos.

E durante muito tempo, quase não produzi imagens com foco “tradicional”.

Fiquei apegada na ausência de foco.

Nas formas.

Na mistura das cores.

Julinha Moreira

Julinha Moreira

A paixão cresceu a tal ponto, que em 2010 eu estava muito mais à procura da ausência de foco do que qualquer outra coisa. Eu fui na direção completamente oposta de tudo aquilo que tinha aprendido. E foi aí que eu fui sentindo a minha fotografia ganhar força, virar a MINHA fotografia.

Julinha Moreira

Julinha Moreira

Julinha Moreira

Julinha Moreira

Julinha Moreira

Julinha Moreira

Além da ausência do foco, com o tempo, reencontrei um outro amigo, o grão. Esse que eu já conhecia desde os tempos do laboratório, e por quem eu cultivava uma admiração. Nos últimos tempos passei a incorporá-lo à minha fotografia. Ele, na verdade, ganhou espaço há bem pouco tempo – definitivamente em 2012, antes disso, eventualmente fazia algumas aparições.

Primeiro, nas imagens PBs, e depois, nas coloridas. Gosto da textura que ele dá, essa cara de imagem suja, que dá vontade de pegar com a mão.

Essa imagem imperfeita.

E quem diria que na imperfeição, e na suposta fraqueza das minhas imagens, é que eu fui encontrar a minha fotografia. E transformei isso na minha maior força.

Julinha Moreira

Julinha Moreira

Julinha Moreira

Julinha Moreira

Julinha Moreira

Julinha Moreira

Julinha Moreira

esse post foi escrito e fotografado por Julinha Moreira (julinhamoreira@gmail.com)

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Bibi

Então que nos últimos muitos anos eu fiquei cada vez mais próxima do assunto maternidade, educação, como lidar com crianças e ouvi-las. Hoje li um artigo que me fez lembrar de um momento importante que eu vivi. O artigo que eu li foi essa entrevista do pediatra espanhol Carlos González. Recomendo para pais de crianças pequenas, crianças grandes, de adultos. Para quem não é ainda nem pai nem mãe, e pra quem nem é nem pretende virar. Convivemos com crianças, alguns mais, outros menos. Mas sempre, em algum momento da vida, teremos por perto uma criança. Que seja sobrinho, primo, filho do vizinho ou do amigo. Quem aqui nunca teve contato com criança?

Voltando ao que eu queria contar.

Na vida, aprendemos muitas coisas, mas algumas ficam marcadas mais que outras. E por essa eu agradeço à Bibi, que me ensinou uma coisa muito importante, um pouco depois de completar 2 anos. Bibi é filha de uma grande amiga, e um dia, Bibi com 2 anos e eu com 21, aconteceu uma coisa que mudou minha vida. Sim, clichezão assim mesmo, mas mudou. A Lu, mãe da Bibi, saiu para levar os outros filhos em algum lugar. Bibi vinha da escolinha, cansada, perto da hora do almoço. A mãe saiu, falou tchau, daqui a pouco estou aqui. E Bibi ficou sozinha comigo. Ela se jogou no chão e começou a chorar. Eu, na ignorância dos 21 anos, presa aos “ensinamentos” da sociedade, a tudo que se ouve do que é certo ou errado fazer, de que não se deve pegar criança no colo quando está chorando, que criança que faz birra a gente deixa espernear, me perguntei “e agora, o que faço?”, pra minha sorte, e da Bibi, eu ouvi meu coração, que dizia “você não vai deixar esse bebê/criança chorando e ficar assim indiferente, como se nada estivesse acontecendo!”. Peguei a Bibi no colo, que encostou a cabecinha no meu ombro. O choro foi diminuindo, e eu fui percebendo isso pelo movimento da respiração no peito dela, que foi ficando mais calmo, tranquilo, até que ficou sem soluços, sem lágrimas. Assim, rapidinho. Bibi queria colo, queria carinho. Estava cansada e queria um pouco de afeto. Não era birra, não era manha, nada dessas coisas que a gente ouve. E ela não ficou “mal acostumada” por isso. O que aconteceu foi que ela me ensinou uma coisa muito importante: a ouvir mais meu coração, a escutar aquilo que eu sabia, mas que tinha esquecido que sabia.

Obrigada Bibi, por esse ensinamento tão valioso!

Bibi

Bibi oito anos mais tarde

esse post foi escrito e fotografado por Julinha Moreira (julinhamoreira@gmail.com)

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